25 de junho de 2010

A Saga do retrato







Eu sempre gostei de desenhar pessoas, mas nunca gostei de desenhar retratos.
Me deixem explicar.
Como qualquer artista já deve ter ouvido na vida, quando você anuncia para um amigo ou familiar que trabalha desenhando, uma das coisas mais comuns de se ouvir é: Então me desenha! Faz o meu retrato!
Eu sempre tive problemas com isso, por quê, entre outras coisas, eu gosto de desenhar pessoas que não existem, ou que só existem a partir do momento em que eu as desenho. Uma outra questão é a importância afetiva que o retrato tem para as pessoas.
É algo que você põe na parede e olha todos os dias para ele, que mostra para as visitas. É de certa forma uma eternização da imagem do retratado, que por sua vez, espera que o tal retrato corresponda a suas expectativas sobre sua própria aparência, ou que no mínimo, seja bonito. Ninguém quer que se lembrem para sempre do quanto você era feio, não é?
As vezes, depois que a pessoa morre, o retrato do falecido ocupa o seu lugar na casa e na familia. Sobre isso posso sitar dois exemplos:
Nunca conheci meu avô paterno, ele morreu quando meu pai tinha apenas 12 anos. A única relação que tenho com ele, e a única lembrança, é um retrato pintado tipico da tradição nordestina que existe na parede da casa da minha avó. Só depois de muitos anos fiquei sabendo que os olhos dele são de outra cor, e que minha avó acha que ele era muito diferente daquilo.
Um outro exemplo é o caso de um folclórico senhor de minha cidade, dono de um imenso ferro-velho. A esposa dele, falecida a alguns anos é venerada por ele. No ferro-velho, na frente da mesa onde ele trabalha o dia inteiro, disposto de tal forma que ele posso olha-la o dia inteiro, há um retrato da mulher. Todos que chegam ao ferro-velho são apresentados a ela e escutam ele contar do quanto ela era uma pessoa maravilhosa, a esposa perfeita. Ele apresenta o retrato como quem apresentaria a própria esposa.
Principalmente por essas razões que sempre tive receio ao fazer retratos e sempre evitei o máximo que pude.
Mas a uns meses atrás, apareceram duas propostas de trabalho que consistiam em retratos.Apesar do desconforto inicial decidi topar e "encarar o medo de frente". Pensei também que seria uma boa oportunidade de trabalhar formatos e técnicas com as quais não estava habituada.
O primeiro é o teste para um trabalho maior, eu teria que fazer o retrato de um ator de um filme local. Para esse, fiz primeiro um estudo de observação das proporções sobre uma fotografia e em seguida um estudo bem solto usando pastel seco. O conjunto de pastéis que eu tinha a disposição era pouco variado, então, para termos de estudo fiz um retrato verde. Depois disso percebi quais eram as minhas falhas e produzi um segundo retrato com aquarela em meu scrap-book, esse sim, um dos meus preferidos, inclusive por quê já possuo uma certa intimidade com a técnica.
O segundo foi uma encomenda, o rapaz queria dar o retrato de presente pra irmã, um trabalho que eu realmente não esperava, e foi um desafio quase terapêutico.Esse, em formato grande, foi o que deu mais trabalho. Utilizei o pastel seco. Como já disse, as cores que tenho são limitadas, e eu mesma não possuía qualquer intimidade com eles.Tentei misturar as cores "riscando", depois acrescentei lápis de cor e aquarela em alguns pontos. Resultado: Acabamento ruim, o giz deslizava no lápis, uma loucura! E para piorar, não consegui captar bem a menina, os dentes do sorriso dela me pareciam muito agressivos, parecia mais uma "pessoa padrão que existia na minha cabeça", errei as proporções... AI! UM HORROR!!! rs
Então refiz! Para suprir a deficiência de cor, decidi usar um papel craft, pardo, que se aproximava bem dos tons de pele dela. Quase não usei o pastel, só em um alguns brilhos e preenchimentos, usei mais o lápis de cor (no papel pardo os tons claros funcionam bem!), laquê para fixar (uso laquê como fixador de lápis, carvão e outros materiais no desenho. É mais barato e menos nocivo) e... pronto. Confesso que o resultado não me deixou feliz por completo, ainda acho que as proporções podiam melhorar, além de ainda não fazer as pazes com o sorriso da moça, mas de qualquer forma, fiquei mais satisfeita do que com o primeiro. Acho que falhei também nos tons do cabelo. De qualquer forma, ai está!

2 comentários:

  1. Olá Nathália...bacana seus desenhos, conheci seu trabalho atravez do blog do Akel!!!
    Parabéns.

    Cris Rio
    cristianrio.blogspot.com

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  2. Excelente postagem Nathália! Aprecio muito relatos realmente sinceros, e este particularmente está bem transparente nas suas inquietações artísticas e nos desafios que sempre estamos envolvidos.
    Em frente!! :D

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Eu preciso ouviloooo...